Apesar
dos problemas causados pelas drogas lícitas, como o álcool e o
tabaco, que são fonte de lucro de grandes empresas, serem conhecidos
e reconhecidos como os que mais trazem problemas para a sociedade,
recentemente a mídia e o poder público vem alardeando o crack como
uma epidemia e como um grande mal para toda a sociedade.
Porém,
é preciso perceber que por trás desse alarde, estão propostas
tentadoras e ilusórias de soluções milagrosas para o tratamento de
pessoas que sofrem com o uso de drogas, como a internação
involuntária e a segregação em Comunidades Terapêuticas.
E
por trás dessas propostas, de um lado está o interesse econômico
de grupos privados no financiamento pelo Estado das internações de
longa duração em Comunidades Terapêuticas, e do outro, o interesse
político de falsa soluções populistas, que visam somente esconder
o problema da sociedade, e não realmente tratá-lo.
Desde
os anos 80, os trabalhadores da saúde mental lutam para transformar
o modelo de tratamento das pessoas com sofrimento mental, de um
modelo onde não havia tratamento, e sim a exclusão das pessoas da
sociedade, que eram internadas e devido a exclusão ficavam mais
doentes, mas que dava muito lucro para os donos dos hospitais
psiquiátricos, para um modelo de tratamento comunitário, através
de uma rede pública diversificada e territorializada de serviços
que ofertem cuidados diferentes para as diferentes situações, como
leitos em hospital geral para os casos de desintoxicação e
abstinência grave, Centros de Atenção Psicossocial 24h (CAPS ad
III), Casas de Acolhimento Transitório, Centros de Convivência,
equipes de Consultório de Rua, equipes de saúde mental na atenção
básica, entre outros.
Santos
foi uma das cidades pioneiras nessa mudança, quando nos anos 90, fez
a intervenção num grande Hospital Psiquiátrico, e construiu um
modelo substitutivo a esse hospital, com 5 Núcleos de Atenção
Psicossocial 24h, o Centro de Convivência Tam-Tam, uma Unidade de
Reabilitação Psicossocial, um Lar Abrigado, uma Cooperativa de
trabalho, um Núcleo de Atenção ao Toxicodependente e uma
retaguarda de atendimento psiquiátrico de emergência no
Pronto-Socorro.
Passados
20 anos, essa rede substitutiva, além de não ter sido ampliada, vem
sendo sucateada, com falta de materiais para realizar as atividades,
com imóveis deteriorados sem manutenção, e principalmente com
falta de profissionais para atender a uma demanda cada vez maior,
sobrecarregando os profissionais, que ficam desgastados, levando a
muitos pedirem demissão, causando uma alta rotatividade de
profissionais, e a piora de qualidade dos serviços.
Assim,
em vez de investir nesses serviços para que tenham as condições
adequadas para um bom atendimento, e ampliar essa rede de serviços,
vem se buscando contratar serviços privados e isolados, que visam
mais lucrar com o sofrimento das pessoas do que cuidar da saúde.
Um
exemplo disso é o SENAT II, que em 2005 foi prometido que seria
construído na Zona Noroeste, em 2008 recebeu uma verba federal de
R$400.000,00 para a construção, e até hoje, 2012, nada foi feito!
Se
a Rede de Atenção Psicossocial para problemas com álcool e outras
drogas fosse implantada, e com qualidade, e se houvesse a integração
com as outras políticas públicas, como lazer, cultura, educação,
trabalho, entre outras, as pessoas com problemas com drogas teriam a
oportunidade de superar essa situação com dignidade!
Mas
será que estão preocupados com o cuidado e a dignidade das pessoas,
ou com seus interesses privados, de lucros e eleições?
Trancar não é tratar! Recolher
não é acolher!
Saúde não se vende, louco não se
prende! Quem tá doente é o sistema social!
Lutar
por uma sociedade que produza saúde!
Combater
uma sociedade que produz doença!
É
preciso ter clareza de que vivemos hoje em uma sociedade em que uma
minoria tem a possibilidade de viver bem,
ao passo que uma grande maioria encontra-se em condições
de vida precária, dependentes de trabalhos cada vez mais
precarizados, tendo como exemplo disso o crescimento de trabalhos
informais ou terceirizados.
Se
fosse realmente interesse de nossos governantes preocupar-se com a
saúde das pessoas, certamente o investimento seria voltado para
qualidade nos serviços públicos de saúde, regidos sob a lógica
do convívio social, da solidariedade, da autonomia, e de propiciar
condições para uma saúde plena. Ao contrário disso, o que
vemos é uma preocupação muito maior em sustentar banqueiros e
empresários. Um exemplo disso são os Megaeventos que acontecerão
no Brasil e as políticas de incentivo ao consumo, como o crédito.
E
não se trata só do descaso com os serviços de saúde, mas toda a
sociedade. Atualmente, temos uma sociedade onde a lógica
manicomial está presente em diversos mecanismos de opressão, no
trabalho, na educação, no transporte, na prisão, na discriminação
contra negros, homossexuais, mulheres...
É
por isso que a Luta Antimanicomial deve vir acompanhada da
luta pela Reforma Sanitária, e para além disso, a luta por uma
sociedade que produza saúde, que supere essa relação de exploração
e opressão. É preciso
reconstruir os movimentos populares de saúde como os da década de
80, vinculada a outros movimentos populares, sindical e estudantil, e
que reconhecia a importância de lutar por uma saúde de qualidade,
mas também lutar pela reforma agrária, pelo não pagamento da
dívida e outras importantes lutas!
O
Fórum Popular de Saúde é um
espaço amplo, independente de governos e partidos, aberto
para usuários e profissionais da saúde, estudantes, trabalhadoras e
trabalhadores, movimentos sociais e sindicatos que
vem buscando organizar na Baixada Santista a luta em defesa da saúde
pública, contra a lógica privatista e manicomial.