sábado, 16 de junho de 2012

Drogas: pelo tratamento sem segregação


Apesar dos problemas causados pelas drogas lícitas, como o álcool e o tabaco, que são fonte de lucro de grandes empresas, serem conhecidos e reconhecidos como os que mais trazem problemas para a sociedade, recentemente a mídia e o poder público vem alardeando o crack como uma epidemia e como um grande mal para toda a sociedade.

Porém, é preciso perceber que por trás desse alarde, estão propostas tentadoras e ilusórias de soluções milagrosas para o tratamento de pessoas que sofrem com o uso de drogas, como a internação involuntária e a segregação em Comunidades Terapêuticas.

E por trás dessas propostas, de um lado está o interesse econômico de grupos privados no financiamento pelo Estado das internações de longa duração em Comunidades Terapêuticas, e do outro, o interesse político de falsa soluções populistas, que visam somente esconder o problema da sociedade, e não realmente tratá-lo.

Desde os anos 80, os trabalhadores da saúde mental lutam para transformar o modelo de tratamento das pessoas com sofrimento mental, de um modelo onde não havia tratamento, e sim a exclusão das pessoas da sociedade, que eram internadas e devido a exclusão ficavam mais doentes, mas que dava muito lucro para os donos dos hospitais psiquiátricos, para um modelo de tratamento comunitário, através de uma rede pública diversificada e territorializada de serviços que ofertem cuidados diferentes para as diferentes situações, como leitos em hospital geral para os casos de desintoxicação e abstinência grave, Centros de Atenção Psicossocial 24h (CAPS ad III), Casas de Acolhimento Transitório, Centros de Convivência, equipes de Consultório de Rua, equipes de saúde mental na atenção básica, entre outros.

Santos foi uma das cidades pioneiras nessa mudança, quando nos anos 90, fez a intervenção num grande Hospital Psiquiátrico, e construiu um modelo substitutivo a esse hospital, com 5 Núcleos de Atenção Psicossocial 24h, o Centro de Convivência Tam-Tam, uma Unidade de Reabilitação Psicossocial, um Lar Abrigado, uma Cooperativa de trabalho, um Núcleo de Atenção ao Toxicodependente e uma retaguarda de atendimento psiquiátrico de emergência no Pronto-Socorro.
Passados 20 anos, essa rede substitutiva, além de não ter sido ampliada, vem sendo sucateada, com falta de materiais para realizar as atividades, com imóveis deteriorados sem manutenção, e principalmente com falta de profissionais para atender a uma demanda cada vez maior, sobrecarregando os profissionais, que ficam desgastados, levando a muitos pedirem demissão, causando uma alta rotatividade de profissionais, e a piora de qualidade dos serviços.

Assim, em vez de investir nesses serviços para que tenham as condições adequadas para um bom atendimento, e ampliar essa rede de serviços, vem se buscando contratar serviços privados e isolados, que visam mais lucrar com o sofrimento das pessoas do que cuidar da saúde.

Um exemplo disso é o SENAT II, que em 2005 foi prometido que seria construído na Zona Noroeste, em 2008 recebeu uma verba federal de R$400.000,00 para a construção, e até hoje, 2012, nada foi feito!

Se a Rede de Atenção Psicossocial para problemas com álcool e outras drogas fosse implantada, e com qualidade, e se houvesse a integração com as outras políticas públicas, como lazer, cultura, educação, trabalho, entre outras, as pessoas com problemas com drogas teriam a oportunidade de superar essa situação com dignidade!

Mas será que estão preocupados com o cuidado e a dignidade das pessoas, ou com seus interesses privados, de lucros e eleições?

Trancar não é tratar! Recolher não é acolher!

Saúde não se vende, louco não se prende! Quem tá doente é o sistema social!


Lutar por uma sociedade que produza saúde!
Combater uma sociedade que produz doença!

É preciso ter clareza de que vivemos hoje em uma sociedade em que uma minoria tem a possibilidade de viver bem, ao passo que uma grande maioria encontra-se em condições de vida precária, dependentes de trabalhos cada vez mais precarizados, tendo como exemplo disso o crescimento de trabalhos informais ou terceirizados.

Se fosse realmente interesse de nossos governantes preocupar-se com a saúde das pessoas, certamente o investimento seria voltado para qualidade nos serviços públicos de saúde, regidos sob a lógica do convívio social, da solidariedade, da autonomia, e de propiciar condições para uma saúde plena. Ao contrário disso, o que vemos é uma preocupação muito maior em sustentar banqueiros e empresários. Um exemplo disso são os Megaeventos que acontecerão no Brasil e as políticas de incentivo ao consumo, como o crédito.

E não se trata só do descaso com os serviços de saúde, mas toda a sociedade. Atualmente, temos uma sociedade onde a lógica manicomial está presente em diversos mecanismos de opressão, no trabalho, na educação, no transporte, na prisão, na discriminação contra negros, homossexuais, mulheres...

É por isso que a Luta Antimanicomial deve vir acompanhada da luta pela Reforma Sanitária, e para além disso, a luta por uma sociedade que produza saúde, que supere essa relação de exploração e opressão. É preciso reconstruir os movimentos populares de saúde como os da década de 80, vinculada a outros movimentos populares, sindical e estudantil, e que reconhecia a importância de lutar por uma saúde de qualidade, mas também lutar pela reforma agrária, pelo não pagamento da dívida e outras importantes lutas!

O Fórum Popular de Saúde é um espaço amplo, independente de governos e partidos, aberto para usuários e profissionais da saúde, estudantes, trabalhadoras e trabalhadores, movimentos sociais e sindicatos que vem buscando organizar na Baixada Santista a luta em defesa da saúde pública, contra a lógica privatista e manicomial.