Em
1987, trabalhadores da saúde mental se reuniram na cidade de
Bauru para denunciar a exclusão e a discriminação com que eram
tratadas as pessoas em sofrimento psíquico, cujo único destino
era o recolhimento em manicômios, visando segregar essas pessoas da
sociedade e utilizar de pseudo-tratamentos para docilizar os
pacientes, geralmente através de métodos violentos, como
eletrochoque, camisa de força, dopagem farmacológica etc. Além
disso, grande parte dos ditos hospitais psiquiátricos eram
financiados pelo Estado brasileiro, sendo fonte de lucro para
empresários.
Passados
25 anos do que foi chamado de Luta Antimanicomial e Reforma
Psiquiátrica, apesar dos avanços, a rede substitutiva de saúde
mental ainda não foi totalmente implantada; o número de leitos para
internações breves são muito aquém do recomendado. Os CAPS 24h,
que deveriam possuir leitos para internações breves em casos de
crises ainda existem num número muitíssimo reduzido (somente 64 em
todo o país!). Além disso, os serviços que existem estão sendo
precarizados, tendo sua equipe reduzida e sem infraestrutura para
realizar suas atividades.
Santos
é uma cidade exemplo desse cenário. Já foi exemplo mundial de
Reforma Psiquiátrica, onde houve intervenção municipal sobre um
manicômio que foi extinto, sendo substituído por 5 CAPS 24h.
Entretanto, a falta de investimento nessas unidades de saúde fez com
que elas ficassem sucateadas, sem equipes para funcionar
adequadamente durante as 24h e sem infraestrutura para realizar as
atividades. O que vemos hoje são equipes sobrecarregadas e
desmotivadas, com alta rotatividade, e usuários com crises
constantes.
O
sucateamento dos serviços públicos de saúde vem sendo utilizado
para justificar a terceirização dos serviços para o setor privado.
Esse processo de terceirização das responsabilidades
do setor público para o setor privado vem causando a quebra dos
processos de implementação do SUS e da Reforma Psiquiátrica. Uma
gestão não pautada pelas ações em rede, pela co-responsabilidade,
pela relação com serviços de inserção comunitária (educação,
trabalho e habitação) e de caráter privado (diminuindo
consideravelmente o controle social sobre recursos, procedimentos e
prioridades do serviços) denuncia este risco.
A
mesma lógica manicomial vem se repetindo com as pessoas que tem
problemas com álcool e outras drogas, e observa-se cada vez mais o
tratamento sendo regido por concepções religiosas e de forma
moralista. O poder público está começando a financiar as tais
Comunidades Terapêuticas, que são entidade privadas que se utilizam
do isolamento social e muitas vezes de práticas religiosas e de
moralismos como suas formas de pseudo-tratamento.
Já
se passaram 25 anos e se propagandeia a ideia de que a reforma
psiquiátrica não conseguiu dar conta e com isso justificam um
suposto “retorno” a lógica manicomial. No entanto, temos que ter
claro de que, apesar de alguns avanços, a reforma psiquiátrica em
nenhum momento se concretizou de fato, a lógica manicomial em nenhum
momento foi superada e que devemos lutar pela continuidade de uma
política integralmente antimanicomial!
Trancar não é tratar! Recolher
não é acolher!
Saúde não se vende, louco não se
prende! Quem tá doente é o sistema social!
Lutar
por uma sociedade que produza saúde!
Combater
uma sociedade que produz doença!
É
preciso ter clareza de que vivemos hoje em uma sociedade em que uma
minoria tem a possibilidade de viver bem,
ao passo que uma grande maioria encontra-se em condições
de vida precária, dependentes de trabalhos cada vez mais
precarizados, tendo como exemplo disso o crescimento de trabalhos
informais ou terceirizados.
Se
fosse realmente interesse de nossos governantes preocupar-se com a
saúde das pessoas, certamente o investimento seria voltado para
qualidade nos serviços públicos de saúde, regidos sob a lógica
do convívio social, da solidariedade, da autonomia, e de propiciar
condições para uma saúde plena. Ao contrário disso, o que
vemos é uma preocupação muito maior em sustentar banqueiros e
empresários. Um exemplo disso são os Megaeventos que acontecerão
no Brasil e as políticas de incentivo ao consumo, como o crédito.
E
não se trata só do descaso com os serviços de saúde, mas toda a
sociedade. Atualmente, temos uma sociedade onde a lógica
manicomial está presente em diversos mecanismos de opressão, no
trabalho, na educação, no transporte, na prisão, na discriminação
contra negros, homossexuais, mulheres...
É
por isso que a Luta Antimanicomial deve vir acompanhada da
luta pela Reforma Sanitária, e para além disso, a luta por uma
sociedade que produza saúde, que supere essa relação de exploração
e opressão. É preciso
reconstruir os movimentos populares de saúde como os da década de
80, vinculada a outros movimentos populares, sindical e estudantil, e
que reconhecia a importância de lutar por uma saúde de qualidade,
mas também lutar pela reforma agrária, pelo não pagamento da
dívida e outras importantes pautas!
O
Fórum Popular de Saúde é um
espaço amplo, independente de governos e partidos, aberto
para usuários e profissionais da saúde, estudantes, trabalhadoras e
trabalhadores, movimentos sociais e sindicatos que
vem buscando organizar na Baixada Santista a luta em defesa da saúde
pública, contra a lógica privatista e manicomial.
Contato:
Próxima reunião: 23/05/12, quarta-feira, 18h30
Na
UNIFESP – Campus Baixada Santista.
Unidade II - Ponta da Praia - Av.
Saldanha da Gama, 89