sexta-feira, 18 de maio de 2012

18 de maio – Dia da Luta Antimanicomial - A luta pela reforma psiquiátrica não pode parar!


Em 1987, trabalhadores da saúde mental se reuniram na cidade de Bauru para denunciar a exclusão e a discriminação com que eram tratadas as pessoas em sofrimento psíquico, cujo único destino era o recolhimento em manicômios, visando segregar essas pessoas da sociedade e utilizar de pseudo-tratamentos para docilizar os pacientes, geralmente através de métodos violentos, como eletrochoque, camisa de força, dopagem farmacológica etc. Além disso, grande parte dos ditos hospitais psiquiátricos eram financiados pelo Estado brasileiro, sendo fonte de lucro para empresários.

Passados 25 anos do que foi chamado de Luta Antimanicomial e Reforma Psiquiátrica, apesar dos avanços, a rede substitutiva de saúde mental ainda não foi totalmente implantada; o número de leitos para internações breves são muito aquém do recomendado. Os CAPS 24h, que deveriam possuir leitos para internações breves em casos de crises ainda existem num número muitíssimo reduzido (somente 64 em todo o país!). Além disso, os serviços que existem estão sendo precarizados, tendo sua equipe reduzida e sem infraestrutura para realizar suas atividades.

Santos é uma cidade exemplo desse cenário. Já foi exemplo mundial de Reforma Psiquiátrica, onde houve intervenção municipal sobre um manicômio que foi extinto, sendo substituído por 5 CAPS 24h. Entretanto, a falta de investimento nessas unidades de saúde fez com que elas ficassem sucateadas, sem equipes para funcionar adequadamente durante as 24h e sem infraestrutura para realizar as atividades. O que vemos hoje são equipes sobrecarregadas e desmotivadas, com alta rotatividade, e usuários com crises constantes.

O sucateamento dos serviços públicos de saúde vem sendo utilizado para justificar a terceirização dos serviços para o setor privado. Esse processo de terceirização das responsabilidades do setor público para o setor privado vem causando a quebra dos processos de implementação do SUS e da Reforma Psiquiátrica. Uma gestão não pautada pelas ações em rede, pela co-responsabilidade, pela relação com serviços de inserção comunitária (educação, trabalho e habitação) e de caráter privado (diminuindo consideravelmente o controle social sobre recursos, procedimentos e prioridades do serviços) denuncia este risco.

A mesma lógica manicomial vem se repetindo com as pessoas que tem problemas com álcool e outras drogas, e observa-se cada vez mais o tratamento sendo regido por concepções religiosas e de forma moralista. O poder público está começando a financiar as tais Comunidades Terapêuticas, que são entidade privadas que se utilizam do isolamento social e muitas vezes de práticas religiosas e de moralismos como suas formas de pseudo-tratamento.

Já se passaram 25 anos e se propagandeia a ideia de que a reforma psiquiátrica não conseguiu dar conta e com isso justificam um suposto “retorno” a lógica manicomial. No entanto, temos que ter claro de que, apesar de alguns avanços, a reforma psiquiátrica em nenhum momento se concretizou de fato, a lógica manicomial em nenhum momento foi superada e que devemos lutar pela continuidade de uma política integralmente antimanicomial!

Trancar não é tratar! Recolher não é acolher!

Saúde não se vende, louco não se prende! Quem tá doente é o sistema social!


Lutar por uma sociedade que produza saúde!
Combater uma sociedade que produz doença!

É preciso ter clareza de que vivemos hoje em uma sociedade em que uma minoria tem a possibilidade de viver bem, ao passo que uma grande maioria encontra-se em condições de vida precária, dependentes de trabalhos cada vez mais precarizados, tendo como exemplo disso o crescimento de trabalhos informais ou terceirizados.

Se fosse realmente interesse de nossos governantes preocupar-se com a saúde das pessoas, certamente o investimento seria voltado para qualidade nos serviços públicos de saúde, regidos sob a lógica do convívio social, da solidariedade, da autonomia, e de propiciar condições para uma saúde plena. Ao contrário disso, o que vemos é uma preocupação muito maior em sustentar banqueiros e empresários. Um exemplo disso são os Megaeventos que acontecerão no Brasil e as políticas de incentivo ao consumo, como o crédito.

E não se trata só do descaso com os serviços de saúde, mas toda a sociedade. Atualmente, temos uma sociedade onde a lógica manicomial está presente em diversos mecanismos de opressão, no trabalho, na educação, no transporte, na prisão, na discriminação contra negros, homossexuais, mulheres...

É por isso que a Luta Antimanicomial deve vir acompanhada da luta pela Reforma Sanitária, e para além disso, a luta por uma sociedade que produza saúde, que supere essa relação de exploração e opressão. É preciso reconstruir os movimentos populares de saúde como os da década de 80, vinculada a outros movimentos populares, sindical e estudantil, e que reconhecia a importância de lutar por uma saúde de qualidade, mas também lutar pela reforma agrária, pelo não pagamento da dívida e outras importantes pautas!

O Fórum Popular de Saúde é um espaço amplo, independente de governos e partidos, aberto para usuários e profissionais da saúde, estudantes, trabalhadoras e trabalhadores, movimentos sociais e sindicatos que vem buscando organizar na Baixada Santista a luta em defesa da saúde pública, contra a lógica privatista e manicomial. 


 
Contato:



Próxima reunião: 23/05/12, quarta-feira, 18h30
Na UNIFESP – Campus Baixada Santista.
Unidade II - Ponta da Praia - Av. Saldanha da Gama, 89
 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Todo apoio à categoria dos trabalhadores estaduais da saúde que escolheram lutar!

“Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores,matam nosso cão,e não dizemos nada.
Até que um dia,o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,rouba-nos a luz, e,conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada”.
Fragmento de um poema de Eduardo Alves da Costa chamado “No caminho com Maiakóvski”

A greve da saúde estadual já passou do décimo dia. Momento tenso e importante de uma categoria que é muita lutadora! Tão lutadora que na greve trabalha muito mais: faz mobilização, fica fora do serviço com a escala mínima, faz assembléias, atos, uma grande manifestação na Avenida Paulista, panfletagens. Mas atende sim pacientes e não faz isso por medo, mas por ter clareza de não querer prejudicar a população.
 
Aí vai se formando o dilema. Em uma greve, por exemplo, em uma fábrica de carros, o trabalhador interrompe a produção e o prejuízo é do patrão, o que o força a negociar. No serviço público e mais especificamente o da saúde esta lógica não serve. Na greve o prejuízo não é do “patrão”, no caso o governador Alckmin, e sim da população. Podemos imaginar que prejudicando o acesso da população aos serviços isso prejudicaria o governador. Teoricamente sim, se fosse um governo comprometido e que se importasse com a população que utiliza o serviço. Mas não! Este governo não esta nem aí para quem não será atendido, despreza a população como igualmente faz com o trabalhador.
 
Então a tática do governo, aliás copiada do Serra que agora quer ser prefeito, é fingir que a greve não existe. Deixar o trabalhador falando sozinho, ou melhor, não falando nada. Mas isso a categoria já deixou claro que não vai acontecer!
 
Sabe por que? Porque a situação é absurda. É uma das categorias que mais sofreu nos últimos anos: sem aumento há mais de 10 anos, com um salário base muito abaixo do salário mínimo, perda de direitos como aumento da carga horária, perda do adicional por insalubridade, ticket alimentação vergonhoso e ainda por cima entrega de serviços, do nosso SUS que tanto lutamos, para entidades privadas que estão fazendo lucro à custa de sofrimento dos usuários.
 
Durante todo este tempo a categoria, através do Sindsaúde, foi muito responsável. Primeiro há muito tempo se dispondo a negociar. Mas pouco se avança, pelo contrário, são muitos retrocessos. Depois fizeram manifestações para avisar que não estavam contentes. O terceiro momento foi avisar com bastante antecedência que a situação estava insuportável e que seria realizada a greve. E nada do governo! Chegou à greve da categoria com participação, indignação, mas tentando não prejudicar muito a população do Estado de São Paulo. E o que o governo faz? Desconsidera o movimento, mente para a população através da mídia dando a entender que nos deu aumento de 40% quando na verdade isso não aconteceu. Solta boatos de corte de pontos para desmobilizar os trabalhadores.
 
Mas o que fazer para o governo entender que a paciência desta categoria acabou?
 
Na verdade o governo quer jogar a população contra os trabalhadores da saúde, o que seria a maior das injustiças e que vamos lutar contra isso. E, queremos deixar claro, o governo tem obrigação de apresentar uma proposta. Caso não, será inteiramente o responsável pelas consequências, pois está claro que os trabalhadores não deixaram que sua voz seja levada e já escolheram lutar por mais do que todas as reivindicações, por dignidade!
 
Todo apoio a greve da saúde estadual!
 
Segue abaixo o poema completo citado acima.
Paulo Spina
Trabalhador e delegado sindical de base do Sindsaúde no CAISM Água Funda, militante do PSOL e do Fórum Popular de Saúde
Maria Aparecida dos Santos
Diretora Regional do SindSaúde Baixada Santista, militante do PSOL e do Fórum Popular de Saúde


No Caminho, com Maiakóvski
Eduardo Alves da Costa

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!